Pessoa

Doce é o vaguear entre o ser e o não ser, o estar e não pensar, sentir e não querer.
Fingir o que sou, não ter o que sentir. Chorar o que não é de dor, sorrir o que faz rir. Gargalho de ti, quero ser quem és, mas não te invejo por não seres 'eu'.
Não sei jogar o teu jogo e não me orgulho de não o fazer, mas não é o que quero, não quero ver-me sofrer.
Feliz ou Infeliz, alegre e não contente. Sólida confusão do gostar e ver crescer. Mais e mais, como tudo o que criamos, sabendo que jamais direi que te amo.
Palavras soltas que criam frases insólitas, ditas sem razão, espalhadas ao vento pela tua mão. Detentora da verdade nua e crua, que nem é minha nem tua. Nossa?! Jamais. Qualquer um as pode ver, qualquer um as pode sentir. Sentimentos mútuos, equivalentes a todos. Ninguém quer, ninguém anseia. Todos têm e nenhum detém.
Larga. Pára e rebobina. Quem mais feliz por te ter, querer e não ser?
Objectivo remoto que não vês. Futuro imprevisível, real em sonhos.
Ansiedade que dói e não tarda regressa. Lembra-te que de tudo aquilo que não gostas, mas vives. Não recorres ou socorres. Limitas-te a observa-la e queres que parta, pois esta não te pertence, mas tu fazes parte dela. Não és tu, mas sou eu, não sou eu, pois eu não sou assim.
Não me reconheço. Garanto apenas que aquilo que reflicto é perfeito a meu ver. Mera ilusão óptica agradável a quem me aprecia. Tu já não o fazes.
Já não olho, já não me vês. Não és o reflexo em mim, não sou espelhada em ti. Estilhaços irreparáveis, de boas memórias a recordar. Momentos curtos, rápidos e espontâneos onde o dito é sentido, onde o sentido é realizado, abraçado, desejado.
Além e aquém. Desperto e incerto. Novo e repetido. O velho sentido.

21/22 de Junho 2010