Caixa de Música

E esta não sou eu.
Não é a que te diz “Amo-te” nem tão pouco “Odeio-te”.
Deixo apenas o meu corpo ali, podes observa-lo. E eu?
Eu tremo, sei que tenho de ali estar e ser quem não sou.
Subitamente, o meu corpo começa a fluir, mover-se ao ritmo e tempos implementados naquele local tão desconfortável.
É assustador estar sobre a luz que não permite ver-te e ser quem sou.
Luz que encadeia e não me deixa sentir, mas eu vejo e observo que quem vê gosta e me aplaude de pé. Faço o arrepio correr todos esses corpos e eu solto-me durante escassos segundos, iludindo-me.
O corpo fluiu e mexeu-se com elegância. Fui sublime, deslumbrei, mas…
O foco apaga-se e os nervos, que rapidamente geram arrepios lágrimas e suor, voltam aos bastidores. A ansiedade volta a mim.
É enorme. Consome-me e sente-me. Implementa-me regras. Prende-me. Quero-me soltar.
É tarde para fugir.
Retiro a maquilhagem e o triste rosto transparece.
A bailarina caiu, a caixa de música deixou de tocar e resta apenas o ‘eu’.
Eu sinto. E tu?
Tu apenas sentes o que eu te permitir e fizer sentir. Agora és tu que estás ao ritmo da luz que encadeia.
Agora danças para mim e fazes-me sentir. Quero-te aplaudir. Quero gostar do que vejo.
Representa e faz-me feliz.


26 de Janeiro de 2008, 3h45min

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